Ela começou servindo antepastos aos amigos. Hoje, tem marca que produz 20 toneladas por mês
Empresa fundada por Carmen de Tommaso leva o sobrenome e as tradições da família italiana às prateleiras do varejo
Carmen de Tommaso é paulistana, mas cresceu em um lar italiano. Sua mãe e sua avó nasceram no país da Europa e trouxeram na bagagem o amor pela culinária. Uma das grandes tradições na casa era a de produzir conservas para o inverno. Pimentão, abobrinha, azeitona e outros legumes eram picados e aproveitados em receitas como as de antepastos.
Os pratos eram parte da hospitalidade aos amigos da família. Por isso, quando saiu da casa em que cresceu para ter a sua própria, Carmen nutriu a tradição e continuou a servi-los. A diferença é que os elogios e o sucesso das receitas as levaram ao varejo. Há 33 anos, Carmen comanda a marca de antepastos e patês De Tommaso. A empresa produz 20 toneladas por mês em uma fábrica de 600 metros quadrados e fornece para empórios e supermercados.
Da cozinha para as prateleiras
A ideia de tornar a produção um negócio veio de um amigo. Na época, em meados de 1980, Carmen servia e vendia as receitas para conhecidos. Um dos motivos por trás do costume era afetivo. Outro, empreendedor. “Eu trabalhei com artes plásticas antes de me casar, mas tive três filhos e parei de trabalhar”, conta a fundadora. “Quando minha última filha nasceu, já tinha vontade de voltar.”
Deixar a casa para procurar emprego era difícil. Por isso, ela fornecia os potes de antepastos aos amigos dela e do marido. Aos poucos, a produção foi se avolumando. Foi quando ela seguiu a sugestão e ofereceu o produto a um empório. Saiu de lá com uma encomenda e uma grande prateleira reservada.
A habilidade com as artes a ajudou na criação dos rótulos, então feitos manualmente. Já a missão de profissionalizara produção foi bem mais desafiadora. “Fazer um produto em casa, para amigos e para ser consumido em dois dias, era fácil. O difícil foi fazer para prateleiras, expostas à claridade, à poeira e ao tempo”, relembra a empreendedora.
Um dos caminhos encontrados foi procurar o departamento de química de uma universidade de São Paulo. Lá ela passou dias estudando e teve ajuda para aprender a conservar os antepastos. O desafio era tornar isso possível sem ceder aos conservantes artificiais e nem a ingredientes que não fossem típicos da Itália.
A descoberta de alguns conservantes naturais ajudou nesse processo. Mas Carmen também precisaria deixar a cozinha de sua casa se quisesse adotar melhores práticas. O passo foi dado um ano após a criação oficial da De Tommaso, em 1986. Na época, ela contava com a ajuda do irmã e do marido para produzir as receitas e cuidar da parte administrativa do negócio.
Crescimento em família
Três anos depois, a empresa ganhou sua primeira fábrica, uma planta de 70 metros quadrados em Santa Isabel, na região metropolitana de São Paulo (SP). A maior expansão viria no final dos anos 90, com a popularização do tomate seco no Brasil.
“Antes, a indústria de antepastos era muito insignificante no país. Quando ele foi trazido da Itália e começou a ser feito aqui, alavancou produtos similares, que antes nem tinham uma prateleira específica nas lojas”, diz Carmen.
Nessa época, os filhos do casal já se envolviam aos poucos no negócio, passando as férias na fábrica ou até ajudando na emissão de boletos. Em 2002, com a morte do pai, o filho mais velho, Marcos, teve de deixar os estudos para ajudar integralmente. Mais tarde os outros dois irmãos, Paula e Vitor, também entraram como sócios.
Hoje, cada um tem sua especialidade e área responsável, passando pela produção, área financeira e pelo marketing. Ao todo, a De Tommaso tem 36 funcionários.
Apesar de contar com mecanizações em algumas áreas, como as de cortes ou embalagens, Carmen diz que manter a produção artesanal é uma prioridade. Acompanhar tendências e inovações no mercado gastronômico, também. Ela diz sempre viajar para a Calábria, na Itália, em busca de novas receitas.
Por aqui, acompanha atenta às mudanças na preferência dos clientes. “Eu sempre fui uma inovadora. Quando ninguém ainda falava em vegetarianismo, orgânico ou sem glúten, eu já tinha isso em mente”, afirma a empreendedora.
Carmen prefere não abrir o faturamento, mas diz que a empresa produz 20 toneladas de produtos todo mês. A estimativa é de que o negócio cresça 12% este ano.
https://revistapegn.globo.com/Banco-de-ideias/Alimentacao/noticia/2020/01/ela-comecou-servindo-antepastos-aos-amigos-hoje-tem-marca-que-produz-20-toneladas-por-mes.html